Pergunta: Por que é necessário para uma alma que tenha deixado o corpo há muitos anos atrás pedir uma coisa material, nesse caso um crânio? (referindo-se a uma história sobre um fantasma que sacudia a cama de alguém que havia levado um crânio antigo de um cemitério)

Sri Chinmoy: Almas comuns têm uma atitude maliciosa de vingança. Quando não conseguem vingar-se de alguém enquanto estão na Terra, elas irão querer vingar-se quando estiverem no outro mundo. Elas não estão satisfeitas, e para elas é irrelevante se agem contra um amigo ou inimigo. Vingam-se porque pensam que estarão ganhando algo. Elas têm prazer em fazê-lo, e são impiedosas. Eu conheço muitos casos semelhantes à história que você contou. Essas almas pedem uma coisa de pouco valor – um dólar, por exemplo – e, se não recebem aquilo, o que fazem? Entram nos seus nervos sutis e irritam todo o seu organismo. Eu soube de um jovem garoto cujo amigo faleceu. O menino devia ao amigo o equivalente a dez centavos em moeda indiana. Por sete noites o seu amigo retornou, dizendo: “Devolva o meu dinheiro.” O garoto disse: “Eu estou pronto para devolver, mas como você receberá?” E o amigo dizia: “Me dê, me dê o meu dinheiro.” Ao final da semana a saúde do garoto estava em pedaços e ele ficou de cama por dois meses.

Caso você tenha uma empregada – uma faxineira, por exemplo, e ela morra. Se quiser vingança, ela poderá permanecer no mundo vital por meses ou anos. De lá, o espírito dela poderá causar mui-tos problemas. No entanto todas as coisas são limitadas; ela não poderá continuar torturando-o para sempre.

Vocês não têm ideia de quanto uma certa moça sofreu quando o seu primeiro esposo cometeu suicídio. Duas ou três horas após o casamento ele teve a brilhante ideia de se matar. Como ela sofreu! Foram cinco, seis, sete anos, ou talvez mais. Todos os dias ela era atacada, ameaçada, assustada e torturada de muitas formas. Eu estava na Índia naquela época e não a conhecia, mas um amigo meu pediu que eu a ajudasse. Eu usei o meu poder e após tantos anos de torturas, o espírito finalmente foi embora.

Nós costumamos pensar que, tão logo a alma deixa o corpo, ela se torna generosa, pura, misericordiosa; mas não é assim. Se fosse assim, a morte seria sempre bem-vinda por nós. Diríamos à mor-te: “No momento que você me aceitar eu ficarei livre de todas as amarras.” Mas não é assim que acontece. O padrão que alcançar-mos nesta vida se torna um patamar. Na nossa próxima encarnação começaremos do ponto que tivermos alcançado agora. Se cultivarmos perdão, amor e sacrifício nesta encarnação, pela força do nosso perdão, amor e sacrifício, daremos mais um passo adiante em nossa próxima encarnação.

As pessoas que se vingam de seus amigos e conhecidos depois que suas almas deixam o corpo, estão cometendo enganos tremendos, atrapalhando a sua própria encarnação seguinte, pois não estão abandonando o mundo vital. Elas permanecem no mundo vital e entram no mundo físico grosseiro para ameaçar, assustar ou dar algumas notícias. Se ao invés disso, buscassem entrar no plano mental, no plano da intuição, na mente elevada, na supramente, ou na região da alma, fariam verdadeiro progresso. No entanto elas não o fazem.

Quando aquele homem, ao qual você se referiu em sua pergunta, levou o crânio para casa, ele se colocou em contato com as forças vitais. Ele procurou problemas ao fazer isso. Quando eu tinha nove ou dez anos de idade, fui até um lugar onde vi um crânio. Pude ver algumas palavras em sânscrito escritas nele. Mais tarde, quando estava retornando para casa, vi interiormente que aquelas poucas palavras eram na verdade uma longa carta, e na carta a pessoa falecida dizia quão cruéis com ele foram a sua esposa e filhos. Se eu tivesse trazido o crânio para casa, eu teria o mesmo destino do homem a quem você se referiu na pergunta. Mesmo que eu não estivesse envolvido com o falecido, apenas por ter demonstrado interesse por aquele crânio eu seria incomodado por ele.