Parte I: Astrologia e Profecia

Pergunta: O que você pensa sobre a astrologia? Existe alguma verdade nas previsões astrológicas?

/Sri Chinmoy: A astrologia é uma ciência. Os buscadores espirituais a chamam de uma ciência interior, uma ciência espiritual. A astrologia é o canto das estrelas. Aquilo que foi decretado e aquilo que está no mundo da manifestação fica gravado nas estrelas. Quando a astrologia lida com o passado, com o que já foi gravado, ela estará quase sempre certa. Mas a astrologia também nos permite ver potencial, e busca predizer o futuro de acordo com o passado. Astrólogos versados são peritos no ato de mergulhar na verdade que há nesse reino. Na maioria dos casos, quando é praticada cuidadosa e cientificamente, a astrologia está absolutamente correta para pessoas comuns que não têm fé em Deus ou em si mesmas.

Contudo, se as pessoas tiverem fé em si mesmas, com essa fé elas podem transcender a astrologia. É por isso que dizemos que a fé muda as coisas através de uma vontade inabalável. Se possuirmos uma vontade inabalável, o destino poderá ser mudado. É verdade, todos os nossos feitos passados estão gravados nas estrelas. No entanto, caso eu queira extinguir o destino, é como apagar algo em um gravador. Eu digo algo e aquilo fica gravado, mas, caso eu queira apagar, eu também posso.

A astrologia será cem por cento correta quando alguém está completamente no mundo físico, levando uma vida humana comum. Quando se entra para a vida interior, para a vida espiritual, a astrologia estará sessenta ou setenta por cento correta. Caso o aspirante esteja consciente ou inconscientemente afinado com o seu ser interior e se o ser interior estiver constantemente afinado com a Fonte, haverá muitas, muitas coisas ruins que poderá evitar. E, por fim, quando se está em comunhão consciente com Deus, a astrologia simplesmente não funciona, porque tudo em sua vida vem diretamente de Deus. Verdadeira unicidade com Deus vai muito além da astrologia. Se dissermos, com a nossa intensa aspiração: “Deus, eu não quero tal coisa”, e se formos um com Deus, Ele então dirá: “Tudo bem, você não precisa passar por isso.” É claro que isso não se aplica a iniciantes na vida espiritual. Apenas aqueles que possuem uma comunicação interior direta com o Ser mais elevado podem se colocar completamente além da influência das estrelas. Todavia, uma pessoa não é uma iniciante para sempre. Com o tempo, o buscador se torna mais e mais avançado na vida espiritual e mais e mais imune às forças do seu passado.

Porém, mesmo se alguém não é um buscador, uma predição astrológica pode ser transcendida. Em um plano mais interior, há sempre uma força mais elevada chamada Graça de Deus. A Graça de Deus pode mudar o destino de qualquer um. Essa Graça é todo-poderosa; ela transmuta as possibilidades ocultas e transcende as leis da astrologia, que são as leis cósmicas de Deus. Às vezes a predição de um astrólogo é verdadeira, mas não acontece devido à Graça divina. É por isso que, quando lida com o futuro, a astrologia só estará trinta e cinco ou quarenta por cento correta. Ao saber que existe algo infinitamente superior às leis astrológicas, devemos ter fé em tal coisa. Portanto, a minha solicitação para os meus discípulos é que não depositem sua fé em horóscopos e quiromancia. Tenham toda a fé em sua aspiração. Se tiverem fé absoluta em sua aspiração e na Graça de Deus, a salvação virá. Vocês não precisam se preocupar com o futuro.

Na Índia existem vários modos de se traçar horóscopos. O método Bhrigu é o mais notável. Ele foi introduzido há milhares de anos atrás e agora existem volumes e volumes de livros escritos sobre ele, com tudo gravado. Você simplesmente mostra o seu mapa ao brahmin, ao astrólogo que lida com esse sistema, e ele virará as páginas bem à sua frente e lhe dirá tudo sobre a sua vida. E normalmente ele estará certo. A história da sua vida está escrita naqueles livros. Se o mapa adequado tiver sido traçado, o astrólogo não precisa fazer o horóscopo. Ela já estará descrita.

O meu irmão mais velho, que é um astrólogo, visitou um outro astrólogo que era familiarizado com esse sistema e que tinha todos os antigos e sagrados livros, onde tudo está escrito. Quando ele mostrou o meu mapa a esse astrólogo, logo o astrólogo disse que depois dos doze anos o meu horóscopo não mais funcionaria. Ele estava absolutamente correto, porque com treze anos eu realizei Deus e fiquei imune a todas as leis astrológicas.

Há mais um incidente relacionado ao sistema Bhrigu que eu gostaria de contar: meu tio materno buscou um astrólogo para que seu horóscopo fosse feito de acordo com esse sistema. Ele e a esposa não tinham nenhum filho. No horóscopo estava escrito que esse casal não teria filhos porque o meu tio, que havia sido um caçador na encarnação passada, havia matado uma fêmea de cervo, que estava esperando um filhote. Durante o seu último suspiro a alma dela orou a Deus dizendo: “Ó Deus, ele matou o meu bebezinho dentro de mim. Por favor, não dê a ele filho algum em sua próxima encarnação.” Deus ouviu as preces dela e o meu tio materno não teve filhos. Após a minha realização, eu me concentrei para saber se essa história da encarnação passada de meu tio era verdadeira e descobri que era, de fato, verídica.

No entanto, isso não significa que tudo o que os astrólogos dizem é verdade. Longe disso. Um dia uma discípula minha veio chorando até mim, porque alguém teria previsto que o pai dela morreria naquele mês. Eu disse: “Bem, se o seu pai deve morrer, ele o fará de acordo com a profecia do astrólogo.” Então eu me concentrei e disse a ela: “Não se preocupe. Eu não estou trazendo a Graça de Deus e nem fazendo coisa alguma. Não estou nem mesmo orando a Deus pelo seu pai, mas a predição está incorreta.” Acreditem em mim, eu não orei ao Supremo para que ele anulasse a profecia do astrólogo, mas o pai dela está são e salvo. A mãe de outro discípulo morreria no dia dezessete ou dezoito de dezembro, de acordo com a previsão dos astrólogos. Aquele discípulo chorou amargamente. Mas eu contei a ele que essa predição também estava errada. E a mãe dele ainda está viva.

Na Índia sabemos de muitos casos onde a astrologia falhou, principalmente em situações envolvendo um ashram espiritual. Os astrólogos podem dizer que quando uma certa criança tiver quatorze ou quinze anos os seus pais falecerão. Entretanto, se os pais aceitam a vida espiritual antes da criança alcançar aquela idade, eles podem viver muitos anos mais. Muitos Gurus transformaram o destino de seus discípulos. Existem muitas dessas histórias na Índia. Por exemplo, um astrólogo disse que uma certa pessoa morreria em dia e hora estipulados. Uma personalidade espiritual, porém, disse-lhe que fosse visitá-la. A pessoa foi e o professor a colocou no chão, cobrindo-a com lama, e depois meditou lá sentado. Quando a hora especificada havia passado, o Guru retirou a lama que cobria o seu novo discípulo e disse: “Agora retorne ao astrólogo e mostre a ele que você ainda vive na Terra”. Existem muitos, muitos casos autênticos como esse.

Crises aparecem em nossas vidas. Às vezes, quando somos bem jovens, nossas vidas ficam em perigo. Contudo, se a Graça de Deus estiver presente, ou se um dos nossos familiares consciente ou inconscientemente orar por nós, poderemos evitar o perigo.

Os horóscopos podem muitas vezes prever que a morte está próxima para uma pessoa; astrólogos mencionam que haverá perigo e que a pessoa morrerá, mas muitas dessas pessoas ainda vivem. E nós possuímos nas palmas das nossas mãos linhas que dizem quantos anos viveremos na Terra. Em alguns casos, qualquer um que conheça quiromancia dirá que a linha-vida de alguém indica, digamos, trinta e dois ou trinta e três anos, mas essa pessoa pode agora estar com setenta e dois ou setenta e cinco anos. Mesmo entre os meus discípulos existem duas ou três moças cujas linhas-vida estão completamente partidas. Se um quiromante lesse as palmas das mãos delas, ele ficaria surpreso ao ver apenas as duas metades, sendo que as moças ainda estão na Terra. Como pode acontecer? Algum poder mais elevado é responsável por isso. Não há nada que não possa ser mudado pela infinita Graça do Supremo.