Parte III: Um Conto do Além
Um Conto do Além [ fn:: DR 25. No outono de 1968, faleceu um dos discípulos de Sri Chinmoy. O que se segue é um discurso espontâneo oferecido por Sri Chinmoy no Centro em Nova Iorque, pouco tempo depois do acontecimento.]
Eu gostaria de dizer algumas coisas sobre o falecimento de Buddy [VG’s]. No dia em que deixou o corpo, seus pequenos sobrinhos me perguntaram: “Onde está nosso Tio Buddy?” Eu disse: “Ele agora está no Céu, com Deus.” Então, eles indagaram: “Nós também podemos ir?” Expliquei: “Certamente vocês podem, mas apenas quando o Pai de vocês, o Eterno Pai, convidá-los. Quando seu pai físico os chama para perto dele, vocês vão correndo, mas quando ele está em outro quarto e não chama, vocês não vão. Da mesma forma, quando Deus, o Eterno Pai, chama um filho em particular, o filho vai.”Então eles perguntaram: “Por que não podemos ir lá?” Minha resposta foi: “Vocês não podem ir porque aquele lugar é muito, muito, muito longe, e vocês precisam de um tipo de bilhete. Aqui, quando querem ir de um lugar ao outro, vocês compram o bilhete e então vão. Todavia, para aquele lugar, existe um bilhete especial e um dinheiro especial; portanto quando você os tiverem, ambos poderão ir.” Eles indagaram, “Ele está pensando em nós?”, e eu expliquei: “Ele pensa em vocês constantemente. Ele está pensando em vocês e os abençoando e sua alma os estará guiando e auxiliando.”
No dia em que Buddy teve o ataque fatal, sua mãe, Karuna, me telefonou no início da madrugada. Tão logo me concentrei nele, senti que sua morte estava a minutos de ocorrer. Imediatamente entrei em minha consciência transcendental mais elevada e invoquei o Supremo e a Sua Graça descendente. Mais tarde, naquela noite, por volta das seis horas, o período crítico havia passado e ele estava a salvo. Naquela hora vi sua alma entrar em meu quarto enquanto eu meditava. Ele disse: “Salve-me, salve-me.” Eu respondi: “Você está salvo. O Supremo já o salvou.”
Vocês podem dizer: “Se ele foi salvo naquele momento, então como é que agora, um mês depois, ele deixou o corpo?” Minha resposta é esta: há um Plano cósmico, e Deus tem o direito de alterá-lo de acordo com Sua Vontade. Primeiro, a alma de Buddy, com uma vontade adamantina, lutava para permanecer na Terra, e nos identificamos com a sua alma. Com nossas orações, com nossa concentração, com a força que colocamos no físico, com o clamor de nossa alma, ele pôde permanecer na Terra. Mas sua alma viu que, depois que foi curado, seu corpo físico não seria capaz de cumprir a elevada missão que colocara à frente de si mesmo. Quando a alma trouxe essa elevada, elevadíssima visão diante dele, seu corpo ficou com medo de abraçar essa visão e essa realidade. Mas a alma convenceu o corpo de que não seria com aquele corpo, mas sim com outra forma, com outro corpo, que ele iria satisfazer a si mesmo, a Deus e à humanidade. Às 10:15 daquela manhã, o Supremo e sua alma tomaram a decisão de que ele deixaria o corpo. Imediatamente depois, adentrei no mundo oculto e o coroei com os cuidados e bênçãos da minha alma e com todo o meu amor e doçura. Uma hora mais tarde, sua alma efetivamente deixou a prisão corporal.
Dois ou três dias antes, sua mãe sentiu que Buddy estaria dizendo adeus. Ela pôde sentir isso, porque seu corpo, mente, coração e alma eram completamente um com seu filho. A decisão foi consolidada exatamente às 10:15 da manhã, mas o coração da mãe viu a verdade mesmo antes desta vir à tona. Por causa de sua unicidade psíquica com Buddy, seu senti-mento intuitivo fez com que ela soubesse antes mesmo de Deus tomar a decisão.
Se eu agisse como um ser humano que não se identificasse com a Vontade do Supremo, então, das profundezas do meu coração estaria pronto a dizer que foi uma terrível derrota Buddy ter falecido. Perdemos no campo de batalha da vida, onde cada segundo é uma oportunidade para a alma realizar, materializar e manifestar aqui na Terra. Por ter me identificado com ele, chorei e chorei, das profundezas do meu coração. Acreditem, do ponto de vista pessoal, posso por vezes estar no meu mais elevado ou no mais baixo de mim mesmo. Quando estou no físico, eu sofro. A primeira coisa que eu disse foi: “É minha a derrota, minha a derrota, por ter colocado tanta concentração, tanta força nele.” Contudo, do ponto de vista espiritual, essa perda, essa derrota, não é uma derrota. Quando nos identificamos com a Vontade do Supremo, sentimos que Sua Vontade é toda Compaixão e toda Satisfação. No momento em que todos nos entregamos à Vontade do Supremo, Buddy deixou o físico. Sua mãe, sua irmã, ele e eu, todos aceitamos a Vontade do Supremo e dissemos: “Seja feita a Vossa Vontade.”
Por que que, de primeira, nós não nos entregamos à Vontade do Supremo? Bem, antes de mais nada, neste mundo nós nos identificamos com o físico. Tentamos possuir nosso ente querido, para nós mesmos, o máximo de tempo possível. Em segundo lugar, sentimos que pode ser a Vontade de Deus que ele viva, para que sua alma possa ter mais experiências interiores no campo da manifestação. Mas o nosso Eu mais elevado é sempre um com o Supremo e, a partir dele, visualizamos a Visão e Realidade eternas. Quando formos um com o Supremo, sentiremos a Eternidade como verdadeiramente nossa. Buddy esteve na Terra por quarenta e dois anos, mas seu nome espiritual, Asim, significa Vida ilimitada, infinita. É a Vida infinita que a alma possui e acalenta.
Quando vi Buddy no hospital antes de ele morrer, ele disse: “Ajude-me a sair vivo do hospital.” Eu disse a ele que ficaria tudo bem. Não era falsa compaixão minha, mas meu sentimento genuíno, e aquele sentimento era a minha visão. Deus é todo Amor; Deus é todo Sabedoria. E apesar da decisão de Deus ser derradeira, Deus pode mudar a Sua Vontade e tomar outra decisão. Mais tarde, cerca de três horas depois de ter deixado o corpo, ele disse a mim: “Estou mais vivo do que nunca.”
No caso, qual o significado de “vivo”? Para pessoas comuns, para aqueles que não acreditam em Deus, é um absurdo e elas zombarão de mim. Mas aqueles que entraram para a vida interior sentirão que Buddy está agora vivendo a Vida eterna. Previamente, por quarenta e dois anos, ele estava numa vida Terra-limitada. E nesses quarenta e dois anos ele teve muitas, muitas experiências. Mas, em comparação com as experiências que ele obtém agora em um segundo fugaz, aquelas experiências terrenas não são nada. Em um segundo efêmero, ele está tendo milhares e milhões de experiências no mundo interior e essas experiências são do tipo que nos satisfaz interior e exteriormente. Quando Buddy morreu, a alma da minha mãe física desceu do mundo das almas e levou sua alma até o mundo vital. Então, o meu amigo mais íntimo, meu maior admirador, meu irmão espiritual Jyotish, falecido há três anos, veio e levou Buddy para um mundo bastante elevado a fim de que ele descansasse. Eu fui até lá visitá-lo e ele se encontra bastante feliz. Quando sentei ao seu lado, sabem o que ele me disse? Ele disse que seu corpo físico estava um lixo. “E eles queriam que eu permanecesse com aquele corpo!?” E o que eu poderia dizer diante disso? “um lixo!” – ele disse, foi a palavra que usou. Quando fui até lá, ele quis que eu ficasse um pouco e me fez sentar. Lá compartilhamos to-do o tipo de anedotas espirituais, e então me contou também alguns segredos, os quais eu repassei aos membros da sua família. Posso dizer algumas coisas sobre o carinho que ele tem por seus entes queridos, mas os segredos mais profundos eu não posso contar. Ele comentou que as crianças devem comer mais pelos próximos três meses e então na noite passada, ele veio até mim e disse: “Diga à minha mãe e à minha irmã que, de agora em diante, estarei não apenas em seu interior, mas também estarei por elas, por elas e por elas.”
Ontem sua sobrinha, Holly, perguntou-me: “No Céu também se come comida?”, e eu lhe respondi: “Certamente que sim.” Todos vocês sabem que aqui na Terra nós comemos. Também no Céu, no mundo vital, nós comemos. A comida lá é diferente da nossa, algo como pequenos cristais de açúcar de cor acinzentada. Cerca de dezessete anos atrás faleceu uma das minhas irmãs, que gostava muito de mim. Na primeira vez em que entrei no mundo vital ela me deu aquela comida, e eu disse: “Eu não posso comer isso. É muito seco - não quero comer algo tão seco.” Ela riu e riu, e me fez comer. Justamente na noite passada, Buddy me ofereceu esse alimento, e ao seu lado estavam minha mãe, meu amigo e alguns amigos dele. Estávamos todos sentados, jantando. Portanto, aqueles que acreditam na vida interior – na vida espiritual – imediatamente acreditarão que esse mundo interior é também um mundo de realidade. Lá nós conversamos, comemos, fazemos de tudo.
Mais tarde, as crianças perguntaram: “Como podemos falar com ele?” Eu respondi: “Aqui na Terra, não importa quão longe estejamos de alguém, podemos falar com essa pessoa através do telefone. Da forma semelhante, existe um outro tipo de telefone para falar com as pessoas no Céu.” Esse outro telefone é a capacidade da unicidade de nossas almas. Todos nós – não apenas enquanto na terra dos sonhos ou no mundo do espírito, mas também neste mundo de realidade – podemos alcançar nossos entes que partiram, durante a meditação. No entanto infelizmente não o fazemos. Vivemos no físico e não vamos além das fronteiras do físico. Por isso não sentimos nossos entes queridos após a sua partida. Mas, se aprofundarmo-nos em nossa meditação, seremos capazes de vê-los concretamente, bem diante dos nossos olhos.
Agora mesmo, a alma de Buddy está no mundo lunar, considerado como um dos mais elevados reinos no mundo espiri-tual. Existem vários mundos, mas esse mundo lunar é pleno da mais pura alegria, deleite e tranquilidade. Logo Buddy estará conosco novamente. Em alguns anos o veremos com um corpo diferente e eu serei capaz de dizer que a alma de Buddy reencarnou em uma forma diferente. Eu disse a ele que sua mãe, sua irmã, seu irmão, seu pai e todos os seus entes queridos querem vê-lo. Ele disse: “Ver-me? Eles terão a mim.” Portanto eles o terão em uma forma diferente, em um corpo diferente.