Grandes Mestres e os Deuses Cósmicos

Parte I: O Guru e Seus Discípulos

Pergunta: Se todos os Gurus são um instrumento de Deus, por que é tão importante ter devoção exclusiva a um só Guru?

Sri Chinmoy: Não é uma questão de devoção exclusiva. A questão é que você deve saber em quem tem fé implícita. São todos um, é verdade. Mas você tem todo o amor por seu pai e sua mãe, e não pelo pai e mãe de outra pessoa. Um Guru verdadeiro é como um pai. Ele o conduz pessoalmente em sua jornada espiritual e o traz de volta para casa são e salvo. Outros, como o seu tio, podem levá-lo, mas você tem mais fé em seu pai, pois sabe que ele possui mais cuidado, mais amor por você do que o seu tio tem. Todos os Gurus são um, mas você deve saber que alguns são como tios, outros são como primos, e outros são como sobrinhos. É claro que você tem de dar mais atenção ao seu pai. Um Guru em particular tomou a mais completa responsabilidade por você e também prometeu levá-lo até a Meta Destinada. Portanto, ele merece a sua devoção exclusiva. Ele está tomando a completa responsabilidade por lhe mostrar a Face de Deus. Outros estão apenas o inspirando, dando-lhe alguma ajuda. Mas quando se trata do Guru, ele toma o caso como sua própria responsabilidade. A não ser e até que possa lhe mostrar a Face de Deus, ele não ficará satisfeito.

Pergunta: Parece que o Supremo ama você mais do que Ele ama a Si mesmo.

Sri Chinmoy: Se pensar em Deus no plano físico, ou vital, ou mental, ou psíquico, ou em qualquer outro plano exceto o Seu próprio plano mais elevado, então Ele terá mais amor por mim do que por Si mesmo. Onde há um sentimento de separação entre Deus e eu, e eu estou um centímetro abaixo Dele, então Ele terá mais amor por mim, pois sou Seu descendente. A mãe sabe que seu filho está um degrau abaixo. O filho veio a partir da mãe. Portanto, a mãe possui mais amor pelo filho do que por si mesma. O Criador possui mais amor pela Criação do que por Si mesmo. Se o Criador sente que Ele e Sua Criação estão no mesmo nível, então eles são um e insperaravelmente um. Nesse caso, se você chamar alguém de Criador, então a Criação também é o Criador. Se você chamar algo de Criação, o Criador também será aquela coisa. Se ambos possuem o mesmo nível, então você não conseguirá separá-los. E nessa hora, quem ama mais a quem? O Supremo me ama mais quando eu oro para a minha consciência mais elevada. Mas quando de fato entro em minha consciência mais elevada, nessa hora não há diferença entre o Supremo e eu. Minha consciência inferior e minha consciência superior são uma. É por isso que às vezes peço que meus discípulos tentem realizar o Supremo em mim. Chegará o dia em que os discípulos terão de realizar o Supremo em si mesmos. Mas não há diferença. Do ponto de vista mais elevado, o Supremo nos discípulos e o Supremo no Mestre são um.

Pergunta: É necessário ter algum histórico antes de seguir o seu caminho?

Sri Chinmoy: Em nosso caminho, não é necessário histórico. Se alguém visita vários grupos espirituais e então vem para o nosso caminho, isso pode até criar problemas para a pessoa. Se a pessoa é sincera, isso é mais do que suficiente. Se a pessoa está pronta para alcançar a altíssima Meta na Hora escolhida de Deus, então isso é mais do que suficiente.

Se você meditou por cinco, seis ou dez anos em casa ou sob a orientação de algum Mestre espiritual, ou se leu alguns livros, esse histórico pode ajudar, é verdade. Contudo, se muitas pessoas injetaram conhecimento ou sabedoria em você, isso pode apenas gerar confusão. Cada Mestre tem sua própria maneira de ensinar. Cada um está correto, absolutamente correto, da sua própria maneira. Mas se um Mestre em particular não for aquele destinado a ser seu Mestre, uma certa confusão poderá surgir. Isso aconteceu em muitos casos. Portanto, se você encontra seu Mestre logo no começo, se ainda está fresco no início e não foi influenciado por outros buscadores ou Mestres, é muito mais fácil.

Assim, costumo dizer que o único histórico necessário é a sinceridade, o sentimento de que que você quer trilhar nosso caminho. Começamos com um choro, um choro interior. A criança não aprende com a mãe como chorar. A mãe não diz à criança que ela deve chorar. Ela não diz ao pequeno bebê: “Se você chorar, eu lhe darei um doce. Se você chorar, eu lhe darei leite.” Não. O choro é espontâneo. Quando ela quer um doce ou leite ou outra coisa, a criança chora. Na vida espiritual também, quando um buscador entra para um caminho, se ele chora com toda devoção e alma, isso é mais do que suficiente. Nessa hora, o Piloto Interior, o Supremo, que é o meu Guru, o seu Guru, o Guru de todos, ouve o seu choro. Então Ele ilumina o buscador à Sua própria Maneira. Se você seguir um caminho espiritual com toda a sinceridade e devoção, a toda hora o Piloto Interior o conduzirá.

Pergunta: Eu praticava “pranayama” antes de conhecê-lo. Agora você está oferecendo uma técnica diferente. Fico pensando se meditar em você seria o mesmo que mergulhar em mim mesmo?

Sri Chinmoy: Essa é uma pergunta interessante. E a responta é: depende inteiramente do indivíduo. Digamos que você seja um discípulo meu. Você se tornou meu discípulo justamente porque sentiu algo em mim – paz, luz, deleite ou poder. Você sente alguma qualidade divina em mim, e sente também que essa qualidade divina pode facilmente fazer parte de si, ou que já faz.

Eu possuo todo tipo de discípulos – de primeira classe, segunda classe, terceira classe, quarta classe e quinta classe. Naturalmente, o discípulo de quinta classe não é tão bom quanto o de primeira classe. Mas, não importando a que categoria ele pertença, se um discípulo meu meditar em minha Foto Transcendental, ele estará destinado a entrar em minha consciência divina interior.

Digamos que não tenha recebido uma meditação específica de mim, mas sente-se interiormente atraído a mim. O que você deve fazer então é concentrar-se em minha foto e buscar entrar na consciência que perceber lá. Se já tiver visto algo ou sentido algo dentro de mim, se tiver visto ao meu redor uma luz azul ou de outra cor, então você sentirá fé, e será muito fácil entrar em mim. O melhor meio de entrar em mim é através da minha fronte, do meu terceiro olho, que é o olho de visão. Se achar difícil, então tente respirar de forma lenta e constante, imaginando que estou respirando junto com você. Pode ficar tão perto quanto o possível da minha foto e, quando inspirar, tente imaginar que eu também estou inspirando junto com você. Se sentir que estamos respirando simultaneamente, será muitíssimo fácil entrar em mim de forma consciente.

Mas se a purificação não tiver ocorrido em sua natureza exterior, pode ser difícil para você entrar em mim. A sua própria impureza o impedirá. Mas não pense que você é a única pessoa impura, e que todos os outros discípulos são muito puros. Longe disso. Você me fez uma pergunta sincera, e eu a estou respondendo. A impureza pode existir no físico, no vital, na mente ou no coração. Apenas quando você desenvolve pureza é que fica muito fácil entrar na consciência de uma pessoa espiritual. Quando tiver meditado por algum tempo, chegará o dia em que não sentirá diferença entre a sua consciência mais elevada e a consciência de seu Mestre espiritual. Sentirá que o Mestre espiritual é tão-somente a sua própria fração mais elevada, a parte mais desenvolvida de seu próprio ser. Quando realiza Deus, a pessoa não O realiza como um outro ser ou outra pessoa dentro de alguém. Não, ela realiza a sua própria consciência mais elevada, e essa consciência é realmente e inseparavelmente uma com a consciência altíssima do Mestre.

No nosso caminho, você não precisa praticar pranayama ou quaisquer outras técnicas espirituais. Eu não valorizo essas coisas. Eu valorizo apenas a aspiração. E praticar pranayama sem orientação verdadeira é muito perigoso. Conheci três pessoas que morreram praticando-a – um pai e dois filhos. Se realmente quer praticar pranayama, então deve fazê-lo sob a orientação de um Mestre espiritual. Mas eu lhe digo, existem outras formas, outros caminhos até a mesma meta. Há muitos caminhos para Roma, mas uma estrada pode levá-lo meia hora mais cedo, ou mesmo um segundo mais cedo do que as outras estradas. Assim como todas as religiões são verdadeiras em suas essências, também todos os caminhos espirituais são verdadeiros. Mas um caminho certamente será um atalho. Chamamos esse atalho de o caminho sol-iluminado.

O caminho sol-iluminado é o caminho da aspiração. Não pode haver nada mais preenchedor do que a aspiração. Através da aspiração, o buscador se torna parte integrante da Infinidade, Eternidade e Imortalidade. Assim como a liberdade é seu direito de nascença, a realização-Deus também o é. Você deve descobrir que um dia você conhecia Deus muito intimamente. Mas a ignorância entrou em sua consciência, em sua natureza, e agora você se esqueceu Dele. Se realmente quiser tê-Lo de volta em sua vida, a aspiração é a única resposta. Dentro do coração de aspiração, devem existir três coisas: amor, devoção e entrega. São as chaves que podem abrir as portas da Infinidade, Eternidade e Imortalidade. Amor, devoção e entrega compõem nosso caminho, que sentimos ser o verdadeiro caminho sol-iluminado.

Pergunta: Como deveríamos ouvir as suas gravações musicais?

Sri Chinmoy: Você deve ouvi-las com devoção, com alma. Valerá como meditação apenas se ouvir as minhas gravações dessa forma. Isso realmente o ajudará em sua meditação e aspiração. Assim como a nossa Invocação ajuda, também essas gravações serão de auxílio.

Pergunta: Eu gostaria de saber o que você exige de seus discípulos e qual a sua relação com eles. Ouvimos que você é muito rigoroso ao aceitar discípulos e que não aceita todos que vêm até você.

Sri Chinmoy: Você está absolutamente correto ao dizer que sou rigoroso em aceitar discípulos. Alguns discípulos podem pensar que esse rigor é uma fraqueza da minha parte. Só posso dizer que não tenho escolha. Não tenho opção, senão ser rigoroso. Você perguntou sobre o que eu exijo de meus discípulos. Na verdade, eu não tenho o direito de exigir nada. Mas eu sinceramente espero deles certas coisas, aquilo que você poderia chamar de o meu preço. Todos os Mestres espirituais cobram um preço, de acordo com sua própria luz interior. O meu preço é a aspiração, o meu preço é a regularidade. Se um indivíduo tem aspiração genuína, ele pagou a minha taxa. E se ele é regular em sua prática espiritual, então ele pagou o meu preço.

Quando um indivíduo é regular, ele também deve sentir a necessidade da pontualidade. Na vida espiritual, tudo deve ser disciplinado. Assim, se você medita na mesma hora, todos os dias, de manhã cedo, isso o ajudará consideravelmente. É nessa hora que Deus irá bater à porta do seu coração, ou que você baterá à porta do Coração de Deus. Aspiração, regularidade e pontualidade são todas necessárias.

Existe algo mais que espero de meus discípulos, que é amor, amor divino. O amor humano fracassa. Ouvimos de outras pessoas e vimos em nossas próprias vidas como o amor humano está destinado a fracassar. O amor humano aprisiona, e é por isso que ele falha. O amor divino expande, e é por isso que ele é primoroso e triunfa. Eu digo aos meus discípulos que, se eles têm de amar um indivíduo ou um caminho espiritual, então tentem sempre oferecer seu amor divino.

Quando oferece o seu amor, deve fazê-lo através de seu sentimento devotado a Deus. Eu digo aos meus discípulos que não sou o Guru deles. Existe apenas um Guru. O Guru deles e o Guru de todo mundo é o Supremo. Nenhum ser humano pode ser o Guru, porque apenas o Supremo, o Todo-Poderoso, o Absoluto, é o verdadeiro Guru. Mestres espirituais são meros instrumentos. Somos como os irmãos mais velhos em uma família. Agora, os irmãos mais novos não sabem conscientemente onde o Pai está. Portanto, o irmão mais velho diz: “Veja , nosso Pai está sentado num trono. Venha até aqui e veja.” E então o papel do Mestre espiritual acaba. Mas, primeiro de tudo, antes de amor, antes de regularidade e pontualidade, preciso do choro interior de aspiração dos meus discípulos.

Pergunta: A sua relação com seus discípulos baseia-se em quê?

Sri Chinmoy: Minha relação com meus discípulos é baseada em amor, cuidado e compaixão. Cada Mestre espiritual possui o mesmo tipo de relacionamento com seus discípulos. Não há Mestre espiritual que não possua cuidado por seus filhos espirituais. Ele é como um pai. Às vezes o pai é rigoroso, às vezes, não. Alguns pais sentem que é através de rigor que seus filhos farão progresso. Outros podem sentir que é através do amor que seus filhos poderão fazer um bom progresso. Como um pai espiritual, descobri que o amor é indubitavelmente a mais poderosa força, mas que o amor e a autoridade divina devem caminhar juntos.

Há uma grande diferença entre autoridade divina e autoridade humana. Autoridade humana é autocracia e ditadura. A autoridade divina é baseada na força da unicidade inseparável com os discípulos. Porque o Mestre tomou responsabilidade por levar cada discípulo até Deus, ele sabe o que é melhor para o discípulo. Um ditador ou autocrata comum sente enorme prazer em ser senhor de poder sobre os outros. Mas o Mestre espiritual não sente prazer algum em sua autoridade. É apenas com o mais profundo cuidado que ele age, pelo bem de seus discípulos. Se diz a um discípulo algo a ser feito, ele sabe que é para o progresso do próprio discípulo. Diz o Mestre: “Serei um com você em sua ignorância para poder levá-lo até a Meta.” E então a autoridade divina do Mestre encoraja o discípulo a não abusar da paciência de sua própria alma, ou da paciência do Supremo, a quem o Mestre representa.

Minha relação com meus discípulos é de constante cuidado e amor, e também autoridade divina. Se você realmente segue o meu caminho, fará o que eu lhe disser. Se não gostar do meu caminho, você tem a liberdade de abandoná-lo hoje mesmo. Eu não o obrigarei a ficar comigo. Mas se você segue o meu caminho e realmente quer fazer um bom progresso, então, juntamente com o meu amor e cuidado, eu também usarei minha autoridade divina. Se perceber que você está afundando nos prazeres da ignorância, eu usarei minha autoridade divina para compeli-lo a sair da ignorância, ou então deixar o meu caminho.

Meu rigor é também uma forma de cuidado divino. Quando sou rigoroso com alguém, isso não é punição. Estou apenas tentando trazer à tona o leão feroz que há dentro do discípulo, de modo que sua ignorância seja destruída. Por ser usado de diversas formas, as pessoas podem não compreender bem o rigor. Mas os meus discípulos, meus sinceros e devotados discípulos, sabem que quando uso minha autoridade divina, não é uma ditadura minha – é tão somente a minha unicidade inseparável com eles.

Pergunta: Uma vez que o Mestre inspirou o buscador, e o buscador escolhe o seu caminho, como o buscador saberá o seu papel?

Sri Chinmoy: Uma vez que escolheu o caminho e está certo dele, é responsabilidade do Mestre lhe dizer o que você deve fazer e o que não deve fazer. Mas a escolha fica com você no início. Você deve decidir se aquele caminho ou aquele Mestre são seus. Uma vez que escolheu um caminho, é responsabilidade do Mestre lhe dar uma meditação específica ou inspirá-lo interiormente. Talvez ele não lhe fale, não esteja fisicamente diante de você, mas ele terá uma comunhão interior com você. Ele terá livre acesso à sua alma e a sua alma terá um livre acesso à alma dele. O Mestre será capaz de dizer à sua alma como guiá-lo e transformá-lo, tanto em sua vida exterior quanto na vida interior. Ele é completamente responsável por você apenas quando um comprometimento mútuo foi firmado entre a sua alma e o Mestre. Mas o Mestre não é completamente responsável por alguém que aderiu ao seu caminho numa postura de quem está só experimentando. Se o Mestre compromete-se nessa hora, ele será mal compreendido. Imediatamente o buscador irá procurar segundas intenções por detrás da aceitação do Mestre. Ele pensará: “Sou um grande cantor,” ou “Venho de uma família muito rica; é por isso que o Mestre precisa de mim.” Esse tipo de ideias erradas entrarão na mente do buscador.

Pergunta: De vez em quando minha consciência sobe muito alto durante o dia. Isso acontece porque você está meditando em mim?

Sri Chinmoy: Eu não preciso receber o crédito. A sua consciência é como um pássaro. Você tem o pássaro e tem a árvore. O pássaro voa alto para sentar num galho mais elevado. Mais tarde ele pode descer. Mas é verdade que todos os dias eu medito em você. Muitas vezes eu recebo vibrações de você e outros e, então, espiritualmente projeto minha consciência em sua consciência física.

Pergunta: Incomoda você receber essas vibrações de nós vinte e quatro horas por dia?

Sri Chinmoy: Não, e pelo contrário, ficarei muito feliz se meu filho espiritual estiver pensando em mim. Se estiver pensando mal de mim, ficarei triste. Mas mesmo que alguém passe seu tempo pensando mal de mim, isso é uma bênção para a pessoa. Havia um indivíduo que odiava o Buda. Mas o Buda disse que esse indivíduo iria alcançar o Nirvana, pois pelo menos ele estava pensando no Buda vinte e quatro horas por dia. Estava sempre pensando em como capturar o Buda ou destrui-lo. Era uma abordagem negativa. Mas ao menos ele focava toda a sua atenção no Buda. Agora, é claro que é sempre melhor abordar o Mestre de uma maneira positiva.

Pergunta: É uma boa ideia discutir nossas experiências espirituais com nossos irmãos e irmãs?

Sri Chinmoy: Não é recomendável discutir experiências interiores com seus irmãos e irmãs espirituais. Apesar de pertencerem à mesma família que você, eles ainda não superaram a inveja. Exteriormente eles parecerão felizes e erguerão você aos céus. Mas interiormente seus corações estarão fervendo, e eles tentarão remover a essência da sua experiência através da inveja e outras forças baixas. Não há uma regra certa, mas mesmo que um discípulo seja muito próximo a você – digamos, seu esposo ou esposa – ainda assim a inveja pode aparecer.

Às vezes acontece de alguém ter uma experiência e então contar aos amigos, que duvidam dela. Imediatamente a força, poder e luz da experiência desaparecem. A dúvida possui o poder de imediatamente levar a sua experiência embora. Na vida exterior, se você diz a outros que está sofrendo ou em uma consciência baixa, receberá uma certa simpatia e eles tentarão elevar a sua consciência. Mas quando se trata de experiências muito elevadas, sublimes, há toda a possibilidade de ser mal compreendido, gerar inveja ou ser atacado pelas dúvidas dos outros. Portanto, por favor guarde essas coisas para si. Suas experiências um dia se tornarão realização, que é como a luz do dia. Não é possível esconder a luz do dia, mas é preciso esconder a chama, pois há pessoas que podem assoprar a chama com sua inveja ou dúvida.

Vocês deveriam, contudo, fazer com que seu Mestre saiba. Apenas o seu Mestre espiritual não tem inveja de vocês, pois ele teve experiências infinitamente mais elevadas. E ele também sabe que discípulo algum terá uma experiência grande sem sua inspiração pessoal, conhecimento e ajuda consciente ou indireta. Se contar ao Mestre acerca de uma experiência que teve, isso somente aumentará a sua convicção. Ou, caso tenha sido uma alucinação mental, o Mestre pode lhe esclarecer. Algumas pessoas têm falsas experiências. Elas leem livros que tratam de experiências elevadas, e essas experiências inconscientemente entram em suas mentes – elas tentam de forma inconsciente assimilar as sublimes experiências da pessoa que escreveu o livro. Mas às vezes nem mesmo aquela pessoa teve as experiências. Ela apenas as emprestou do livro de alguém. Nesses casos, o Mestre será capaz de dizer se suas experiências são genuínas ou não, e se são o resultado verdadeiro de sua aspiração interior.

Se você não tem um Mestre para quem contar suas experiências, o que fazer então? Você deve observar para onde o resultado da experiência o leva e o que está ganhando com ela. Se você sente paz, luz e deleite em medida abundante, saberá que a experiência é genuína. Se for uma experiência real, verdadeira, a sua mente ficará calma e silenciosa, e seu coração estará em perfeita serenidade. Apenas na perfeita serenidade é que se pode ter o mais elevado tipo de experiência. Agora, se a experiência for falsa, ela criará em você uma excitação e o compelirá a contar aos seus amigos, para que receba admiração e apreciação. Mas isso somente criará inveja neles. Você não tem o direito de consciente ou inconscientemente aumentar a inveja deles. Portanto, o melhor é guardar suas experiências interiores para si.

Pergunta: Por favor me diga o que devo fazer quando sinto rejeição por parte dos meus irmãos e irmãs espirituais.

Sri Chinmoy: Quando estiver se sentindo rejeitado por seus irmãos e irmãs espirituais, o humano em você ficará triste, frustrado e furioso. Mas o divino em você imediatamente orará ao Supremo por perdão aos seus irmãos e irmãs. A única forma pela qual receberão iluminação é se o Supremo os perdoar.

Digamos que eu seja seu irmão espiritual e o tenha rejeitado. O humano em você ficará imediatamente furioso e tentará se vingar, ou poderá se afastar. Você não irá querer nada comigo, pois eu o rejeitei ou o insultei. Mas nessa mesma hora, o divino em você tentará vir à tona com compaixão, pois sabe que cometi um grave erro ao rejeitá-lo. Se você também me rejeitar, olho por olho, dente por dente, de que forma você será melhor do que eu? O que eu fiz é errado. É muito errado, é verdade, mas se você não quer fazer a mesma coisa errada, então deve me perdoar e pedir a Deus que me perdoe também.

O Cristou orou, “Pai, perdoe-os, pois não sabem o que fazem.” Igualmente, você deveria orar a Deus pelo seu irmão ou irmã, que é o verdadeiro culpado. É a primeira coisa a se fazer. A segunda coisa é orar a Deus pela iluminação da pessoa, para que ela não o rejeite ou a qualquer outra pessoa no futuro. Se ela for realmente perdoada e iluminada pelo Supremo, não mais o rejeitará.

Contudo, se você fizer o mesmo papel e rejeitar alguém que o rejeitou, ambos estarão nadando no mar da ignorância. O outro fez algo errado, e você está fazendo a mesma coisa. Pagar com a mesma moeda não adianta nada. O que você quer, afinal, é a iluminação de seus irmãos e irmãs espirituais.

Pergunta: Você diz que a Divindade de Deus meditou e criou o homem. Não é verdade também que o homem meditou e criou a Divindade de Deus?

Sri Chinmoy: Deus criou a divindade do homem. E, quando o homem medita, ele realiza a Divindade de Deus e se torna um com a Divindade de Deus. Quando o homem conscientemente se torna um e inseparável da Divindade de Deus, sua própria divindade e a Divindade de Deus passam a ser uma só. E nessa hora o homem sente que ele e Deus sempre foram um e inseparáveis. Tudo começou com a Unidade de Deus. Ele era Um, mas sentiu que queria se satisfazer em e através da multiplicidade. Deus era Um, mas Ele queria ouvir a mensagem da multiplicidade na Unidade. Portanto, Ele meditou e criou a divindade do homem. O homem quer se tornar a própria imagem de Deus e ouvir a mensagem da unidade na multiplicidade. Portanto, o homem medita na Divindade de Deus. Assim é como o homem medita na Divindade de Deus, e como Deus medita na divindade do homem.

Pergunta: Em sua poesia, você fala sobre a indiferença do Céu. De que forma o Céu é indiferente?

Sri Chinmoy: Se você se elevar, verá. Mestres espirituais costumam dizer que os deuses e deusas cósmicos tentam impedir que eles sigam além de seu domínio. No início, os pais ensinam os filhos a rezar para Deus. Eles os levam para igrejas e lugares espirituais. E, então, quando essas mesmas crianças querem seguir o caminho espiritual de forma séria, os pais se colocam como obstáculo. Quando as crianças crescem e encaram a espiritualidade com seriedade, os pais sentem inveja do caminho espiritual. Temem perder seus filhos, ou então que seus filhos se tornarão melhores do que eles em amor a Deus. Quer seja por inveja, quer seja por insuficiência, eles sentem que seus filhos irão transcender suas conquistas. Também no caso dos deuses cósmicos, eles tentam ajudar os buscadores espirituais. Mas quando veem que estamos indo além deles, os deuses tentam nos impedir. Quando entrarmos em seu reino, veremos que o poder deles não é ilimitado. Por isso eles têm medo de que os superemos.

Parte II: Grandes Mestres e os Deuses Cósmicos

Pergunta: Parece que o Cristo nunca meditou, mas que, de repente, se tornou muito elevado. Isso é verdade?

Sri Chinmoy: Não. O Cristo certamente meditou. O que sabemos do passado? O Cristo ficou na Terra por trinta e três anos, e ainda assim há um período de dez ou doze anos no qual a história não sabe o que ele fez. Nesse tempo, ele esteve na Índia e em outros lugares, e ele certamente meditou.

Pergunta: O Cristo foi um pintor, um atleta ou um poeta?

Sri Chinmoy: Do ponto de vista mais abrangente, o Cristo foi certamente um poeta, um pintor e um atleta. Ele foi um poeta, pois os seus pronunciamentos foram todos poéticos, visionários e revolucionários. Cada um dos trabalhos do Cristo é uma visão-vidente do Pai Supremo. Ele também era pintor. Sua mãe era pintora, queira o mundo acreditar ou não – ela era uma grande pintora. Ela pintava assim como os pintores comuns pintam. Mas o Cristo foi um pintor divino. Ele pintou o sofrimento da vida humana e o deleite da vida divina, em e através de sua vida. O Cristo foi um atleta. Ele correu o mais rapidamente em trinta e três anos. No breve período de sua vida, ele completou o seu percurso de acordo com a Visão-Indicação de Seu Pai Supremo. E ele foi um atleta supremo. Ele enfrentou os golpes da vida humana e ofereceu sua unicidade para a humanidade sofredora e aspirante.

Pergunta: Quem foi Ramakrishna?

Sri Chinmoy: Ramakrishna é o filho da Mãe Kali, uma criança da Mãe Divina. E a Mãe Divina é amor e compaixão. Primeiro, ele foi até a Mãe Kali, a Mãe cósmica, e então ele se tornou a Própria Mãe.

Pergunta: Existem muitos Gurus que agora vieram para o ocidente. Eles estão vindo para compartilhar a inspiração que receberam, ou há um movimento para explorar os buscadores no ocidente?

Sri Chinmoy: Há alguns Gurus sinceros e outros insinceros. Os Gurus sinceros foram interiormente ordenados e guiados por Deus que viessem e servissem a Ele no ocidente. Mas os insinceros vieram para o ocidente para se mostrar e ganhar dinheiro, para que possam voltar para a Índia e ter uma vida muito confortável. Nesse caso, é uma enganação. Mestres que não são sinceros dizem: “Dê-me milhares de dólares e eu lhe darei a realização.” Você dá o dinheiro e eles vão embora. E onde está a sua realização? Se a realização-Deus pudesse ser conquistada com dinheiro, todos os ricos iriam imediatamente realizar Deus. Com um punhado de dólares você poderia alcançar a realização! Mas não é assim. Para a realização-Deus, você deve chorar e chorar e chorar. Gurus insinceros irão explorá-lo e dizer que serão capazes de lhe dar a realização-Deus da noite para o dia. Eles dirão que tornaram o processo muito fácil. Mas é possível? Custa-nos vinte anos para conquistar um diploma de mestrado, meramente de conhecimento comum. E para a realização-Deus, que é infinitamente mais difícil, leva muito mais tempo.

Question: Estive lendo _A Autobiografia de um Iogue_ e fiquei surpreso com as descobertas do _Kriya Yoga_. É verdade que esse Yoga pode acelerar a evolução de uma mente positiva?

Sri Chinmoy: Não apenas esse Yoga, mas muitos Yogas podem acelerar a evolução espiritual. Ao nosso Yoga, que incorpora amor, devoção e entrega, chamamos de o caminho sol-iluminado. Por conta da minha mais elevada realização, posso dizer que esse Yoga conduz o aspirante à Meta mais rápido do que qualquer outro. Eu não segui todos os outros Yogas, mas eu os conheço por causa de minha realização. Quando uma pessoa é realizada, é possível saber quantos anos ou séculos foram necessários para outras pessoas alcançarem a realização-do-Eu. Sinto que o nosso caminho, o caminho de entrega absoluta, é o mais rápido. Para ser muito franco com vocês, não há outro Yoga tão simples e, ao mesmo tempo, tão profundo quanto o Yoga da entrega. Nesse Yoga o finito perde sua existência e imediatamente se torna um com o Infinito. Essa não é a entrega de um mendigo a um rei. Na verdadeira entrega, o finito sente que tem a capacidade e potencial de entrar no Altíssimo, que é parte de si.

Já que vocês são meus discípulos e estão no meu barco, por favor leiam meus escritos tanto quanto possível e estudem e vivam nosso Yoga. Dessa forma não ficarão confusos e não farão uma competição com outros caminhos.

Eu li o livro “A Autobiografia de um Iogue”, escrito por Paramahansa Yogananda. E eu o conheço muito, muito bem. Conheço o Mestre dele no mundo espiritual, assim como o Mestre do Mestre dele e, ainda, o Mestre-avô, Babaji. Mas eu gostaria de lhe dizer que Kriya Yoga não é para você, visto que aceitou o nosso Yoga. Se souber compreensivamente o que eu represento aqui na Terra e o que meus ensinamentos são, seu progresso será o mais rápido.

Pergunta: Li que a Mãe Kali é a deidade da sua família. Você poderia falar um pouco sobre ela?

Sri Chinmoy: Kali é um dos quatro aspectos da Mãe Suprema. Ela é a Mãe do poder, a Mãe da compaixão e a Mãe da velocidade. Ela quer que seus devotos corram o mais rapidamente. Aqueles que desejam agradá-la devem ser extremamente sinceros, pois, se de um lado ela é compassiva, de outro ela é muito rigorosa. Outros aspectos “Mãe” do Supremo, como Mahalakshmi, também são compassivas – mas não se importam com o mesmo tipo de velocidade. A Mãe Kali quer a mais rápida velocidade. Ela não irá tolerar nada que seja impuro ou não-divino. Ela quer que seus devotos sejam completamente puros imediatamente. É necessário ser extremamente puro, sincero e heróico para ser seu instrumento escolhido. Ela não é para os fracos – é apenas para os fortes. A Mãe Kali só procura os fortes, que estão prontos para lutar contra a ignorância.

Muitas vezes, quando vemos Kali no plano vital, ficamos incomodados ou assustados. Ela está matando diversas forças não-divinas e, portanto, parece séria e feroz. Mas no plano interior, ela é cheia de compaixão. No plano exterior, ela pode parecer escura ou negra, mas no plano interior ela é de uma cor muito bela, dourada.

Na Índia, cada família possui uma deidade presidente. A Mãe Kali é a deidade da minha família, e por isso tem bênçãos especiais para a minha família inteira. Há muitas outras famílias que têm Kali como deidade presidente.

Pergunta: Porque a língua de Kali é vermelha nas gravuras?

Sri Chinmoy: Kali está demonstrando o seu aspecto poder, para que a humanidade não-aspirante não fique chafurdando nos prazeres da ignorância. Nos planos físico, vital e mental, ela mostra seu poder supremo, pois não há outro modo de a ignorância humana se abrir para a luz. Seu poder em si é compaixão, mas ela também precisa injetar temor. Se não, a ignorância da humanidade nunca virá à tona para a iluminação.

Pergunta: Eu gostaria de saber sobre a relação entre o Senhor Shiva e a Mãe Kali.

Sri Chinmoy: A Mãe Kali é a consorte do Senhor Shiva. O Senhor Shiva é o aspecto silencioso da Realidade Transcendental, e a Mãe Kali é o aspecto dinâmico da Realidade Transcendental. A Verdade é completa quando é ambas, dinâmica e silenciosa. A Verdade é completa quando o aspecto dinâmico e o aspecto silencioso operam juntos.

Nos Upanishads é dito: “Aquilo é longe e, ao mesmo tempo, é próximo. Aquilo se move e não se move. Aquilo está dentro e aquilo está fora. Ele se mexe e não se mexe.” Quando Kali está fazendo o seu papel, a realidade se move. Quando Shiva age, a realidade é silente. Quando eles trabalham juntos, aquilo se move e não se move. Com nossa consciência humana, quanto tentamos ver a Verdade, ela está longe, muito longe. Mas com nossa consciência divina, quando tentamos ver a Verdade, ela está muito próxima – bem diante de nossos narizes.

“Aquilo está dentro e aquilo está fora.” Essas condições conflitantes cessam quando nossa consciência interior está completamente desperta. Se algo está dentro, então essa justa coisa deve também estar fora. Se há uma semente, haverá também uma árvore. Se há uma árvore, haverá também uma semente. Se a Verdade já existe no interior, então a Verdade deve ser manifestada, cedo ou tarde, no exterior.

A Mãe Kali é o aspecto dinâmico da Verdade Transcendental e o Senhor Shiva é o aspecto silente da altíssima Verdade Transcendental. Eles satisfazem o altíssimo Supremo juntos, como o verso e o anverso da mesma moeda. Shiva é silente, e Kali é ativa e dinâmica. Se enxergamos com nossos olhos humanos comuns, dizemos que eles são separados. Mas se os enxergamos como nosso olho interior, vemos que estão juntos.

Pergunta: O que o deus Agni representa?

Sri Chinmoy: Agni é fogo. Fogo é aspiração. Nas escrituras indianas, temos quatro Vedas, e o Rig Veda é o mais importante. A primeira palavra do Rig Veda é “Agni”. Agni é o deus-fogo ou o deus de aspiração. Sem aspiração, você não pode fazer progresso. Agni é o deus mais importante para os buscadores. Mas quando você aspira, não precisa necessariamente adorar o deus cósmico Agni. Apenas aspire.

Parte III: A Oração e as Mandalas

Pergunta: Qual é a importância relativa da oração?

Sri Chinmoy: Para um buscador genuíno, que procura Paz, Luz, Deleite e Poder divinos em medida infinita, a oração nunca será tão importante quanto a meditação. Quando oramos, na maior parte do tempo temos a sensação de mendigar. “Ó, Deus, dê-me isto; faça-me aquilo.” Sentimos de forma automática que somos pedintes e que outra pessoa nos concederá nossos pedidos. Um pedinte bate à porta de qualquer um – seja rico ou pobre. Ele não se importa. Ele apenas bate e bate para ganhar dinheiro. Portanto, quanto oramos, somos como pedintes. Oramos a Deus para cá, para lá, olhando para cima, para baixo, ou como for. Não sabemos de que canto ou de que nível Deus irá satisfazer os nossos desejos. Olhamos para cima e clamamos: “Deus, me dê, me dê, me dê!” Há um vasto desfiladeiro entre a existência Dele e a nossa existência.

Se buscarmos em nossas profundezas interiores, veremos um desejo sutil ou grosseiro, que nos instiga a orar. É por uma gota, duas ou três gotas de Compaixão ou Luz ou Paz que estamos orando. Infelizmente, quando oramos, nossa atenção completa fica focada num objeto ou desejo em particular, e sentimos que, se conquistarmos essa coisa pela qual estamos clamando, isso já basta. Portanto, quando a oração é satisfeita, ela cessa. Através da oração, esperamos que Deus nos dê o que queremos e, então, quando Deus dá, quando nossa oração é atendida, paramos de orar. Por alguns meses ou anos deixamos de orar, até que o desejo uma vez mais nos instigue. E então oramos de novo.

Mas meditação é diferente. Na meditação, ficaremos em um certa região divina, onde sentiremos o tempo todo a expansão de nossa consciência. Quanto mais sentimos a expansão de nossa consciência, mais claro fica que Paz, Luz e Deleite estão crescendo dentro de nossa meditação. A própria meditação torna-se o solo fértil onde a supersafra da Paz, Luz e Deleite poderá crescer. Assim como não há fim para a nossa aspiração, também não há fim para a nossa meditação. Lidamos com Eternidade, Infinidade e Imortalidade – portanto, o nosso progresso é constante e, ao mesmo tempo, sem fim.

Quando meditamos, estamos no mar de tranquilidade. Não há ninguém para quem orar, e Deus sente nossa necessidade mais do que podemos imaginar. Ele está sempre presente. Devemos apenas recebê-Lo. Quando meditamos, Deus sente a necessidade de satisfazer a Si mesmo em e através de nós. Na vida espiritual verdadeira, não há comparação entre a meditação e a oração. Há momentos em que iremos orar, mas se formos um buscador verdadeiro, se quisermos realmente ir até a Meta última, para a maioria de nós a meditação é o degrau mais elevado na escada da evolução espiritual. No entanto, se oramos pela satisfação da Vontade de Deus, se oramos pela Sua Vitória divina em e através de nossas vidas, essa oração é muito elevada, poderosa. Muitos dos grandiosos gigantes espirituais do ocidente realizaram Deus através desse tipo de oração.

Pergunta: Qual o seu sentimento sobre seus discípulos usarem colares de “japa”?

Sri Chinmoy: Não sou completamente contra o uso de colares para “japa”, mas não sou muito a favor deles também. Se alguns quiserem usar os colares, meu pedido mais sincero é que mantenham-os dentro da camisa. Caso contrário, poderá criar uma vibração imprópria dentro do Centro. Por favor não os mostrem. Se ainda assim quiserem usá-los, façam em casa quando meditarem. Vocês podem guardá-los em seu quarto, no altar. Gostaria de dizer que fazer “japa” não é necessário em nosso caminho. Mas se quiser fazer “japa”, faça-o de forma lenta e devotada. A dificuldade do “japa” é que, enquanto o faz, está prestando toda a atenção ao número. Se está decidido a repetir “Supreme” umas centenas de vezes, acaba contando um, dois, três, e fica esperando acabar. Assim não há valor, não há progresso, nada. Na Índia e na América eu vi muitas, muitas pessoas fazendo “japa”. Na maior parte do tempo elas fazem como um trem expresso: “Supreme, Supreme”, como se estivessem lutando contra o tempo. Mas, se quiser repetir o nome do Supremo da forma mais devotada, isso realmente aumentará a sua capacidade de concentração e meditação profunda, devotada.

Pergunta: Guru, é bom meditar em mandalas?

Sri Chinmoy: Sim. Você pode meditar em mandalas. Você pode meditar em qualquer coisa que lhe traga alegria. Se lhe traz alegria, você pode meditar numa flor, vela, na minha foto, ou mesmo na sua própria foto. Apenas fique de pé ou sentado diante do espelho e se observe sem reparar em seu rosto físico. Olhe para si mesmo e sinta que isso é o que você é, mas que você quer ser outra coisa. Olhe para si mesmo e entre naquilo que vê. Diga a si mesmo: “Não quero ter esse rosto; quero ter uma face muito luminosa.” E você pode meditar numa flor e dizer: “Quão bela é essa flor. Quero meditar nela e me tornar tão puro quanto essa flor.” Ou pode meditar no mar e dizer: “Olhe, o mar é tão vasto, tão pleno de consciência espiritual. Quero meditar nele e me tornar Consciência Infinita.” Aquilo que lhe traz a maior alegria, máxima alegria, é a melhor coisa para você meditar.

Pergunta: Qual a melhor forma de entoar o nome da nossa alma? O que devemos sentir ou imaginar?

Sri Chinmoy: O seu nome espiritual é Savita. Se cantar “Savita”, deve imediatamente pensar em sua conexão com a deusa sol, a fonte criativa. Pense na criação; então pense nos raios do sol. Não é na verdade pensar – é imaginar. Tente trazer diante do olho da sua mente a ideia de que é a aurora, e o Sol está aparecendo. Imagine-se vendo os raios dourados do Sol. Então, coloque todas as qualidades bem diante de você e tente desenvolvê-las com a sua imaginação.

Pergunta: Através da meditação é possível dominar ou criar algum poder psíquico?

Sri Chinmoy: Certamente, através da meditação é possível obter poder psíquico. Uma pessoa está fadada a obter poder psíquico através da meditação. Mas se receber poder psíquico, isso pode afastá-lo da vida espiritual. Às vezes, as pessoas obtêm poder psíquico e, então, não querem mais orar; elas querem ajudar os outros. Então a ignorância das pessoas a quem elas tentam ajudar as captura, e elas deixam o caminho espiritual. É muito perigoso. Contudo, após realizar Deus, é seguro começar a usar poderes psíquicos. Poder psíquico não necessariamente ajuda na realização de Deus. Você pode ver os poderes psíquicos como belas árvores, plantas ou frutos que encontra em sua jornada espiritual. Alguém pode estar trilhando uma outra estrada, onde não há árvores, flores, não há nada que possa tentá-lo. Ao obter poderes espirituais, há toda a possibilidade de ser tentado por esses poderes. Eles muitas vezes afastam da meta os buscadores sinceros. Assim, é melhor não dar atenção alguma aos poderes psíquicos. Preste atenção somente no seu clamor interior, na sua aspiração. Quando chegar a hora, Deus lhe dará todos os poderes psíquicos. Mas justamente agora o que Ele quer que você faça, e que todos os buscadores façam, é realizá-Lo.

Parte IV: Espiritualidade e o Mundo Exterior

Pergunta: Guru, você disse que a partir da nossa meditação devemos encarar o mundo com a postura correta. Qual seria essa postura?

Sri Chinmoy: Você deve sempre ter a postura de um herói divino. Um herói divino não é um soldado comum que irá bater e matar. Não. Será um soldado espiritual aquele que lutar pela manifestação divina aqui na Terra, que agir por amor ao Divino, ao Supremo. Se você morre de medo quando um problema surge, não poderá ser um instrumento escolhido do Divino, do Supremo. A vida deve ser aceita. Essa aceitação não quer dizer um simples desfrutar. Não. Aceitação guarda um significado espiritual particular. Há um tipo de meditação que sente que o mundo é irreal e desértico. Mas eu gostaria de discordar e dizer que o mundo é muito fértil. O mundo não é um sonho – uma névoa quimérica. Este nosso mundo é a realidade, mas essa realidade ainda não está plenamente manifestada. É a nossa meditação, nossa vida interior, nossa aspiração, que pode apressar o processo de manifestação divina na forma de realidade. Este mundo incorpora divindade, mas negamos até mesmo essa simples verdade. O que temos de fazer primeiro é sentir a encarnação da Verdade última neste nosso mundo, e então revelar e manifestar essa Verdade última com nossa meditação dinâmica, aspiração consciente e sincera dedicação.

Pergunta: Se eu oro pela minha própria salvação, isso implica que estou ignorando a salvação da humanidade?

Sri Chinmoy: Se você ora a Deus, como pode ser indiferente? Pode até dizer que está buscando apenas a sua própria salvação e não está pensando nos outros. Mas eu lhe digo que o simples fato de você estar procurando a sua própria salvação implica que outros serão salvos. No dia em que você realizar Deus, estará fazendo um grande favor para a Mãe Terra, pois uma pessoa a menos estará aprisionada pela ignorância.

Vivekananda costumava dizer que, se uma pessoa ficasse no topo dos Himalaias e oferecesse a sua boa vontade a Deus, ele também estaria oferecendo o que tem de mais elevado para a humanidade. Você é um representante da Mãe Terra. Assim como os outros têm imperfeições, também você possui imperfeições. Mas você está tentando alcançar o mais Belo, o Altíssimo, o Absoluto. Enquanto está meditando, enquanto o seu mais elevado e puro tenta alcançar o Altíssimo, no plano exterior você pode não estar olhando para cá e para lá para uma pessoa ou outra, mas no plano interior você é um com eles. Você verá que, no dia em que receber iluminação, haverá outros que também receberão um pouco da sua iluminação. Outros virão até você precisamente porque alcançou a iluminação. Ao se tornar bom – se você conquistou alguma paz ou luz – é uma pessoa a menos que está na ignorância. Então, quando os outros o observam, ficam tão surpresos! Num momento, você parece tão comum, como eles. Mas no momento seguinte, eles veem algo em sua face.

Se você tem algum amor por Deus e ora para Deus, não pense que está cuidando apenas de si mesmo. Você está cuidando de si, mas também está cuidando por Deus. Primeiro você realiza Deus, mas essa não é a meta derradeira.

Quando realiza Deus e a Sua Bondade, Afeição, Amor e Compaixão, a sua realização é imediatamente seguida por manifestação. O cuidado que você tem pela sua própria manifestação se torna automaticamente o seu cuidado pela humanidade.

Se alguém acha que ao orar para Deus ele não está dando atenção às outras pessoas, ele está completamente errado. Se ele ora a Deus, automaticamente ele estará expandindo sua consciência interior, como um passáro abrindo suas asas. Se você for à base da árvore, verá que Deus é sua raiz. Se você rega a árvore, então a árvore-criação crescerá da forma que a Lei divina quer. A atenção que você dedica para a raiz da árvore, para Deus, alimentará todos os galhos que sobrevirerão e viverão de acordo com a perfeição de Deus.

Pergunta: O nosso caminho irá trazer alguma forma de mudança social?

Sri Chinmoy: Eu não vim para cá para trazer qualquer mudança social. Eu vim para o ocidente apenas para trazer luz, para servir a vocês, para trazer à tona o que é verdadeiro em vocês, de forma que possam se tornar instrumentos perfeitos de Deus.

Infelizmente, você está considerando o irreal como parte de si, pois não sabe diferenciar o real do irreal. Quando o real em você vem à tona, você se torna um instrumento perfeito de Deus. Se o verdadeiro vem à tona em você, nele, nela, em todos, então você verá mudanças significativas na sociedade.

A sociedade é como uma casa. Se todos os membros da casa tornam-se perfeitos, a casa seguirá com paz, luz e harmonia. É a partir do progresso individual que o progresso coletivo vem. Se eu me tornar perfeito, você se tornar perfeito, todos se tornarem perfeitos, você verá que as mudanças sociais serão desnecessárias. Mas se tentarmos fazer a sociedade ser perfeita enquanto ainda está cheia de seres humanos imperfeitos, será um grande fracasso.

Pergunta: Como podemos ir bem nos estudos e também praticar meditação?

Sri Chinmoy: Primeiro de tudo, gostaria de dizer que tenho diversos alunos nas universidades, que estão indo muito bem na vida espiritual e, ao mesmo tempo, em seus estudos.

Se você quer ir bem em seus estudos, o que precisa neste estágio é de concentração. Se não conseguir se concentrar bem, não irá bem nos estudos também. A espiritualidade é a resposta. Você deve saber que o que recebe da sua vida espiritual é normal, natural, espontâneo e satisfatório. Cedo pela manhã, se você puder se concentrar por dez minutos, ou mesmo cinco, alcançará duas coisas. Você sentirá energia interminável dentro de si e também simplificará a sua vida. Essas qualidades serão um grande auxílio para os seus estudos.

Considere a espiritualidade como seu professor particular. O professor particular o ensina em casa e o ajuda a passar na prova. Quando você ora a Deus, quando se concentra e medita em Deus, quando busca em seu interior profundo, nessa hora você está recebendo ajuda e energia da sua Fonte. Então fica infinitamente mais fácil alcançar sucesso em sua vida exterior. A espiritualidade nunca se colocará como um obstáculo para você. Espiritualidade não é a negação da vida. A verdadeira espiritualidade é a aceitação da vida real em nós.

Você gasta oito ou dez horas por dia para receber o seu diploma, mas esse diploma só vai lhe ajudar a ganhar dinheiro ou melhorar o seu status social. Ele não o ajudará a obter paz interior ou alegria interior. Você pode ser o melhor da turma, mas a força dessa conquista durará apenas uma efêmera hora, e logo você sentirá um deserto vazio dentro de si – não haverá satisfação. As coisas que lhe trarão satisfação permanente são a paz de espírito e a alegria interior. E essas coisas você só consegue através da meditação.

O conhecimento exterior e o conhecimento interior devem seguir juntos. Mas chega a hora em que o conhecimento exterior deve render a sua existência ao conhecimento interior. Quando o conhecimento interior toma conta completamente do conhecimento exterior, é nesse momento que o conhecimento exterior encontra seu verdadeiro propósito e verdadeira satisfação. Espiritualidade é a luz-semente dentro de você, e essa luz você deve trazer à tona. Ao seu redor há tenebrosa escuridão, mas, se você consegue trazer a sua luz interior à tona, o verdadeiro conhecimento pode despertar em você.

Pergunta: Qual a sua opinião sobre a leitura de jornais?

Sri Chinmoy: Alguns Mestres espirituais chegaram ao ponto de dizer que jornais não são nada além de falsidade. Eu não gostaria de chegar a esse extremo. Mas se você é levado pelas notícias, passa a ser como uma novela. Há tantas coisas nas notícias que criam sensação em você. Depois da sensação, virá a irritação e muitas, muitas coisas ruins acontecerão. No entanto, você deve permanecer no mundo. Se não souber que o presidente morreu, ou se algo muito importante aconteceu e você não sabe, então não está consciente do mundo. Não está consciente do que está acontecendo ao seu redor, e isso não é bom. Mas se você lê os jornais do começo ao fim, simplesmente pela informação, então ficará no mundo da informação, e a iluminação não ocorrerá. Você deve ser muito cuidadoso.

Pergunta: Como podemos lidar com este mundo, que está literalmente destruído pela agonia?

Sri Chinmoy: Só há um jeito de lidar com ele. Temos de sentir que o mundo não está ao nosso redor ou diante de nós, mas sim em nosso interior profundo. Ele não está fora de nós – está dentro. E então temos de tentar a purificação e transformação de nossa própria natureza. Quanto mais formos purificados e satisfeitos interiormente, mais cedo a transformação do mundo acontecerá. Dizendo a alguém: “Escute, você é imperfeito. Você tem de se tornar perfeito”, você nunca o fará perfeito. Mas se puder purificar a sua própria emoção, iluminar a sua própria vida interior, ficará infinitamente mais fácil para convencer a pessoa a iluminar sua vida. Sempre dizemos que os aspirantes devem mergulhar fundo e alcançar sua própria iluminação primeiro. Então, quando tiverem sua própria iluminação interior, será mais fácil dar inspiração, energia dinâmica ou aspiração ascendente aos outros e iluminar o resto do mundo. Podemos iluminar o mundo apenas através de nosso próprio despertar e iluminação interior.

Pergunta: Devemos nos preocupar com o fato de que o mundo está caminhando para baixo e nós estamos tentando escalar e subir em direção ao alto?

Sri Chinmoy: Para elevar alguém, você precisa estar um centímetro mais alto do que a pessoa. Se sentir que está seguro, então erga o mundo. Se não estiver seguro e tentar erguer outra pessoa, ela o puxará para baixo.

Pergunta: Como podemos acabar com o sofrimento do mundo ao acessar a luz que ilumina?

Sri Chinmoy: Cada indivíduo aqui, infelizmente, é vítima de sofrimento, tristeza e experiências dolorosas. Quando um indivíduo alcança libertação através de sua aspiração, a Paz, Luz e Deleite entram nele. Então ele é liberto do mundo de sofrimento e dores excruciantes. Hoje ele é liberto. Amanhã ele inspirará outra pessoa a sair das redes do sofrimento. E no dia seguinte, ele e a outra pessoa inspirarão uma terceira pessoa. Alguém tem de começar o jogo. Você sai do mar-ignorância, que está cheio de dor e sofrimento. E a sua própria iluminação inspirará outros a saírem do mar-ignorância.

Pergunta: Na vida espiritual, devemos nos sentir responsáveis pelos outros ou não?

Sri Chinmoy: Depende do plano em que você se sente responsável. Ao respirar, só Deus sabe quantos insetinhos você destrói. Se precisar pensar, “Oh Deus, estou destruindo tantos insetos, permita-me fechar o meu nariz”, essa responsabilidade irá levá-lo ao outro mundo.

Quem é esperto dirá que não existe responsabilidade. Afirmam, “Não criei o mundo. Deus é que o criou. Que Ele sofra; é problema d’Ele.” Outros dirão, “É verdade que Deus criou o planeta. Mas já que Ele é idoso e nós somos jovens, é nosso dever inevitável ajudá-Lo.”

Mas Deus diz, “Não. Eu sou eternamente jovem. Sei o que é melhor para Mim e para você. Se realmente se importar Comigo, se tiver amor por Mim, vai tentar Me agradar à Minha Maneira. Eu criei o mundo. Você sente que, embora Eu tenha criado o planeta, ele saiu do Meu controle e, portanto preciso de ajuda. Mas mesmo que o planeta tivesse saído do Meu controle – o que não aconteceu – seja gentil Comigo. Como Eu criei o mundo, não tente tornar-se o gerente ou o proprietário. Sinta apenas que sou o empregador e você é o empregado, já que comecei todo esse negócio. Não mude o jogo.”

Deus pede para Lhe darmos ouvidos e sentirmos que somos empregados por Ele. Se somos empregados, naturalmente nosso dever é agradar o Chefe à Maneira d’Ele. Essa é a nossa única responsabilidade. Uma vez que aceitemos a vida espiritual, precisamos sentir que Deus é a nossa única responsabilidade. Mesmo que tenhamos marido ou esposa, ainda assim precisamos sentir que Deus é a nossa única responsabilidade. Isso não significa que não amaremos nossa esposa ou marido, longe disso. Mas temos de saber por que estamos amando nosso marido, por que estamos amando nossa esposa, por que estamos amando nosso filho. Amamos nossos entes queridos porque Deus está lá dentro deles. Ele pode nos dizer, “Já que você está aqui na Terra, dou-lhe uma missão específica. Tome conta de sua filha. Tome conta de seu filho. Tome conta de seu marido. Essa é a sua responsabilidade.” Uma vez que entremos na vida espiritual, nossa única responsabilidade é a obediência. Não existe outra responsabilidade. A obediência é nossa unicidade consciente com nossa parte mais elevada.

Pergunta: Por que você recomenda o vegetarianismo? Existe alguma relação com a pureza?

Sri Chinmoy: Se você quer levar uma vida melhor, uma vida disciplinada e pura, sinto que uma dieta vegetariana é necessária. Aqueles que comem carne estão adquirindo inconscientemente a consciência de um animal. Além de suas qualidades hostis e outras não divinas, os animais possuem uma tremenda agitação. Quando consumimos alimentos equilibrados, nossa consciência torna-se automaticamente equilibrada, suave e gentil. Mas quando comemos carne, adquirimos a consciência agitada e destrutiva dos animais.

A toda hora, estamos adquirindo a consciência de outras pessoas e objetos. Quando ficamos diante de um Mestre espiritual, adquirimos sua consciência imediatamente, sua vibração. Ele está nos oferecendo o que tem a oferecer. De modo semelhante, o animal nos oferece o que tem a oferecer; e o que ele tem a oferecer são suas qualidades animais. Depende de nós aceitar ou rejeitar essas qualidades. Para o principiante, portanto, ou para qualquer um que esteja seguindo o caminho espiritual, é aconselhável ter uma dieta vegetariana pura. Isso ajuda de modo considerável.

A pureza também é necessária. Temos de sentir que a pureza não vem apenas ao lavarmos o corpo dez vezes por dia. Alguns sentem que se tomarem uma ducha seis vezes ao dia serão puros. Longe disso! Um peixe fica n’água vinte e quatro horas por dia, mas a consciência de um peixe não é mais pura do que a de qualquer ser humano. É verdade que, em inglês, asseio rima com divindade (cleanliness is next to godliness). Podemos tomar duas ou três duchas diárias, mas seguir tomando ducha seis ou sete vezes para ficar puro é totalmente errado. Podemos facilmente purificar o corpo físico denso se instalarmos um altar vivo dentro do nosso coração para o objeto a Quem adoramos, Deus. Sabemos que Ele existe, mas onde? Onde podemos vê-Lo primeiro? Dentro do nosso coração. Deus é onipotente, onisciente e onipresente, mas isso não nos satisfaz. O que nos satisfaz é que Deus é todo amor. E onde está esse amor? Está dentro do nosso coração. Podemos estabelecer a pureza em nós mesmos ao sentirmos a Presença divina dentro do nosso coração.

Pergunta: Como podemos nos concentrar melhor nos esportes sem a interferência do ego?

Sri Chinmoy: Se você tenta conquistar o ego ou inveja, imediatamente a sua vontade interior vem à tona. E você terá a sua melhor performance. Quando praticar esportes, tente competir apenas com você mesmo. Não pense que chegará em primeiro ou último lugar. A sua meta é o progresso – não é derrotar alguém. Se ontem você lançou o peso a sete metros, hoje tentará fazer um pouco mais. Mas se perceber que não está fazendo progresso, você terá de se render à Vontade de Deus. Quando fizer uma entrega constante à Vontade de Deus, não haverá ego. De três maneiras sucessivas você pode tornar a sua entrega à Vontade de Deus completa.

Pergunta: Qual é a importância do conhecimento exterior no nosso caminho?

Sri Chinmoy: Seu objetivo é a realização em Deus. O objetivo é como o topo de uma árvore. Ao chegar lá, você verá ao seu redor milhões de folhas, mas ninguém vai perguntar se você vê as folhas. A realização em Deus que você atingiu é mais do que o suficiente.

Quem estiver estudando informações mundanas deve se perguntar, “Isso me ajuda a realizar Deus?” Com certeza não. Sri Ramakrishna não tinha interesse por informações mundanas. Ele escrevia o próprio nome com a maior dificuldade. Sua esposa não conseguia tanto. Ela não conseguia nem mesmo escrever “realização em Deus.” Ela desafiava Vivekananda porque ele sabia escrever.

Mas a manifestação de Ramakrishna foi inferior a de outros? Não. Quando se trata de manifestação, sua identificação com a Consciência Universal era tamanha que ele obteve Vivekananda, Brahmananda e outros para atuarem como seus instrumentos. Ao realizar o Altíssimo, mesmo que você não seja um gigante mental, não há problema. Se é da Vontade divina manifestar sua luz, Ele irá trazer instrumentos que serão capazes de manifestar a sua luz. Como indivíduo, você tem dois braços e uma mente. Mas ao atingir a realização em Deus, sua missão pode ser inundada com milhares de braços e cérebros férteis. Você necessita de Deus; Ele necessita de você, e está fadado a lhe oferecer o que é necessário.

Na Índia há um ditado famoso sobre um certo doce. Dizem que aquele que o provou sente-se desconsolado, e aquele que não o provou também sente-se desconsolado. Dizem o mesmo a respeito de casamento. Você fica desconsolado se casar e também sente-se desconsolado se não provou do casamento. Na vida espiritual, alguns que ainda não estão maduros nem prontos para ir ao Altíssimo, hesitam no caminho. Enquanto eles estão se movimentando constantemente na vida espiritual, não possuem tempo para pensar no que sua vida prévia poderia ter oferecido. Mas no momento em que param de se mover adiante e obter progresso, ocupam seu tempo com experiências passadas. Eles começam a sentir que não tiveram plena oportunidade na vida anterior para obter todo o progresso que poderiam ter obtido. Dizem, “Perdemos tudo que tínhamos na vida mundana. Poderíamos estar consolidados na vida material, mas acabamos desistindo de tudo.”

Todavia, quando entramos para a vida espiritual, não perdemos de nenhum modo. Temos um objetivo e esse objetivo nos traz tudo. Embora a mais elevada realidade exterior seja deficiente, temos de saber que apenas na espiritualidade reside a verdadeira e altíssima Realidade. Não há nada no mundo que possa nos oferecer a mais elevada Realidade. As realidades do planeta têm base na informação, mas as realidades espirituais possuem base no despertar interior e na revelação. Podemos desafiar facilmente o conhecimento ou a informação, mas não nos atreveremos a desafiar a realidade fundada na experiência interior e na realização, porque a luz está lá bem diante de nós. Como iremos negá-la?

Quando vivemos na vida exterior, possuímos algo; na vida interior, tornamo-nos algo. A vida interior sempre traz o sentimento do que somos. A vida exterior, em raras ocasiões, traz o sentimento de que temos algo. Mas na maioria das vezes ela nem mesmo ousa afirmar que temos algo. Quando permanecemos no mundo interior, somos eternamente a coisa que estamos procurando. Como é possível negar isso? Entretanto, no mundo exterior, negaremos nossa própria vida. Diremos que ela não é para nós, e sim para alguma outra pessoa.

Sintamos que somos de fato a vida interior. O que queríamos ser na vida exterior é só exibição e pretensão. Apenas estamos tentando trazer a responsabilidade para nós mesmos, passa a ser difícil livrar-se dela. A vida exterior é como a pele de uma cebola; a pele nunca termina. A vida interior é como uma laranja; é apenas laranja. Nós a comemos.

From:Sri Chinmoy,Grandes Mestres e os Deuses Cósmicos, Agni Press, 1977
Fonte: https://pt.srichinmoylibrary.com/gmc