Agora, imagine que tomamos conhecimento de que fomos um cervo em nossa última encarnação animal. A única vanta-gem é que podemos pensar em nossa velocidade e dizer: “Eu corria tão rápido na encarnação animal. E naquela época eu não tinha a alma avançada que tenho agora. Nesta encarnação, eu correrei ainda mais rápido!” Tão logo a lembrança de que corríamos rapidamente em uma encarnação passada nos vem, sentimos inspiração para correr velozmente nesta encarnação. Se conhecermos a nossa encarnação passada, poderemos utilizá-la positivamente e nessa hora a inspiração virá rapidamente à tona. Se alguém souber que foi um buscador, obterá certa alegria e confiança. “Eu comecei a minha jornada em uma encarnação passada, porém foi uma estrada muito longa e árdua. Nesta encarnação eu ainda trilho o mesmo caminho, mas desta vez já não tenho mais toda aquela distância a percorrer. Também será um pouco mais fácil, porque eu tenho uma pequena ajuda. Tenho a capacidade. Tenho disposição. Tenho a experiência. Com um Mestre espiritual me guiando, alcançarei facilmente a minha meta.”
Todavia, apenas em ocasiões muito raras fazemos bom uso do conhecimento das nossas encarnações passadas. Na maior parte dos casos, estar ciente delas não é nada encorajador. Se soubermos que na encarnação passada fomos ladrões ou algo não-divino, isso nos traria alguma inspiração ou aspiração? Não! Imediatamente pensaríamos: “Oh, eu era um ladrão, e nesta encarnação estou tentando me tornar um santo. Isso é impossível! É inútil eu tentar me tornar uma pessoa espiritual nesta vida.” Mesmo quando fazemos algo de errado nesta encarnação, precisamos de um longo tempo para esquecer daquele desespero; nós argumentamos: “Eu era tão mau. Eu fiz isso. Eu fiz aquilo. Como poderei agora me tornar puro? Como serei capaz de realizar Deus?” Ainda que tivéssemos feito algo errado, digamos, há quatro anos atrás, aquilo poderia ter a capacidade de nos atormentar.
Por outro lado, imagine se soubéssemos que em nossa encarnação passada fomos pessoas importantes, sendo que nesta encarnação não somos ninguém. Nos sentiríamos desolados, culpando a Deus e a nós mesmos, dizendo: “Se fui tão im-portante, como é que nesta encarnação eu sou tão imprestável? Que coisa terrível eu fiz para merecer este destino? Deus é tão severo; Ele não se importa comigo.” Mas, na realidade, nós não O compreendemos. Deus quer obter nesta encarnação, através de nós, uma experiência diferente e acabamos pensando que Ele está apenas sendo cruel.
Um aspirante busca alegria interior, a alegria que verdadeiramente satisfaça a si mesmo e a Deus também. Isso ele nunca obterá de suas encarnações passadas. Se ao mergulhar em uma de suas encarnações passadas, vir que era o presidente dos Estados Unidos, ainda assim não terá satisfação. Verá que como presidente, a sua vida também era cheia de desolação, frustração e todos os tipos de sofrimento. Pela verdadeira alegria, um aspirante deve seguir em frente na vida espiritual, com a sua própria aspiração e clamor interior, com a sua própria concentração e meditação.
O melhor é simplesmente não pensar no passado. A nossa meta não está atrás de nós, mas sim à nossa frente. A nossa direção é adiante, e não para trás. Para uma pessoa espiritual eu sempre digo: “O passado é poeira.” Digo isso pois o passado não nos deu aquilo que almejamos. Ansiamos pela Realização de Deus. Conhecer as nossas encarnações anteriores não nos ajudará em nossa Realização de Deus. Esta depende inteiramente do nosso clamor interno. O importante não é o passado, mas sim o presente. Devemos dizer: “Eu não tenho passado. Estou começando aqui e agora, com a Graça de Deus e a minha própria aspiração. Nesse momento começarei a correr. O quão longe eu fui no passado é irrelevante. Pensarei apenas no quanto eu vou correr nesta vida.”
Agora mesmo vemos o passado como algo completamente diferente do presente, e o presente como algo completamente diferente do futuro. Mas uma vez que realizarmos Deus, o passado, o presente e o futuro tornar-se-ão um, formando um círculo, o qual é o nosso próprio ser interior, a nossa vida. Nesse momento, poderemos facilmente ver as nossas encarnações anteriores e saber o que fomos.
Se quiser saber sobre as suas encarnações passadas, Deus por certo irá lhe dar essa capacidade. Mas a coisa mais importante não são as encarnações passadas ou futuras, mas sim o que você quer aqui e agora. Você quer Deus, e se meditar com toda alma, Ele ficará obrigado a lhe conceder essa dádiva. Você irá possuí-lo e Ele irá lhe reivindicar como Seu.
Desejo dizer mais uma coisa aos meus discípulos; permitam que eu agora me vanglorie um pouco, e que eles também possam se gabar um pouquinho: vocês levaram vidas espirituais nas encarnações passadas. Se não tivessem algum preparo, acham que Deus os teria trazido até mim? Não, ele os teria levado para algum outro Mestre que fosse uma polegada inferior a mim. Mestres espirituais do meu calibre recebem discípulos que tentaram ou realizaram algo no passado. Alguns fizeram mais, outros menos. Mas todos fizeram algo, senão teriam ido a outro Mestre espiritual e não a mim. Deus é bondoso tanto comigo quanto com vocês. Ele não enviará alunos de jardim de infância para o professor de ensino médio. Guardará os alunos de jardim de infância para os professores que não podem ministrar aulas mais avançadas. Em raras ocasiões, um ou dois discípulos vêm até mim após algumas poucas encarnações humanas, mas essas poucas almas têm um desejo intenso de transcender a sua presente consciência.From:Sri Chinmoy,Morte e Reencarnação: A Jornada da Eternidade, Agni Press, 1973
Fonte: https://pt.srichinmoylibrary.com/dr